Hoje em dia está na moda falar que sofre de ansiedade, depressão, distúrbios psicológicos... Não quero julgar ninguém, mas as pessoas devem ter muito cuidado com esse tema. Depressão não é aquela tristeza que você sente quando terminou com o namorado ou brigou com seus pais. É quando NADA tira a tristeza do seu peito por completo. Ansiedade não é aquele frio na barriga antes da prova ou quando vai falar com o crush. É quando você sente isso mesmo em momentos aparentemente normais. Síndrome do pânico não é a mesma coisa que ser drama queen. É quando do nada, você sente um desespero enorme e sente que vai morrer, sem motivo aparente. Transtorno bipolar não é adolescente temperamental que "uma hora estou de boa mas aí não estou mais". É uma doença séria, que causa muitos problemas para a pessoa. E não, nenhuma dessas coisas é glamourosa, indie, hipster, cool, diferentona, gótica. Não romantizem problemas psicológicos!
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"Ninguém percebeu o quão destruída eu estou" |
Decidi falar isso devido ao enorme estrondo da série 13 Reasons Why, que estreou na Netflix agora. Não, eu não vi a série. Não acho que tenho capacidade de assistir sem que memórias que eu tenho um trabalhão para manter sob controle se manifestem. Porém, isso não faz diferença, já que não vim falar da série propriamente dita, mas sim de toda romantização que tem sido feita em torno de problemas psicológicos e até mesmo psiquiátricos.
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É mais importante se manter vivo, não vale a pena se auto machucar, digo isso sendo uma pessoa que passa por muita depressão, estresse, coisas assim. Eu estou no geral mais feliz esse dias. Mas eu tenho, é normal,completamente normal ter depressão. Acho que o mais importante é se manter vivo, somente permaneça lutando |
Depressão é um vazio sem fim. É se sentir sozinha mesmo com muita gente do seu lado. É não ter vontade de sair independente de quem te chame ou de como esteja o dia. É não conseguir se entusiasmar com nada. Nada faz sentido, parece que uma parte de você morreu. E essa parte nunca volta à vida. Eu sofri depressão no início da minha adolescência, dos 11 aos 14 anos, mas o bullying começou muito antes. E é essa história que eu quero contar.
Eu sempre fui a menina quietinha, magrinha e desde bem pequena eu preferia ficar lendo e desenhando "meninas japonesas" (na época eu não sabia o que era mangá), enquanto minhas amigas gostavam de brincar, correr, jogar bola. Eu era péssima em esportes e muito inteligente nas outras matérias. Ou seja, todo mundo me zoava, MUITO na Educação Física e no Recreio. Porque "a Amanda é estranha, ela não sabe jogar nada, só atrapalha, ela é muito magra, ela tem o cabelo feio, ela só estuda". Essas mesmas pessoas me pediam as respostas da lição. E eu dava, porque achava que elas iam me detestar menos, que eu seria "mais aceita", mas não. Eu tinha poucas amigas e nenhuma delas me defendia, porque eram crianças, não sabiam o que fazer. Então eu me mudei para outro estado.
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Às vezes você tem que de certa forma morrer por dentro para poder renascer das suas cinzas e acreditar em si mesmo e se amar para poder se tornar um novo alguém. |
Nesse novo lugar, fui recebida de portas abertas. As pessoas gostavam do meu cabelo, e gostavam de eu ser inteligente. Elas gostavam das "meninas japonesas", de livros, e de todas coisas esquisitas que eu amava. Ninguém brigava comigo na Educação Física e eu não passava o recreio sozinha. Eu fiz amigas (tão verdadeiras que até hoje somos próximas). Eu tinha a vida perfeita, foram os melhores 2 anos e 7 meses da minha infância. Até que me mudei novamente de estado... E essa mudança me abalou tão profundamente, que até hoje as cicatrizes doem e quero voltar a morar nessa cidade que me fez tão feliz. Eu não aceitava. Eu sofri, experimentei o bullying antes, mas isso passou e fui apresentada a uma realidade totalmente diferente, eu tinha tudo que queria e essa felicidade foi arrancada de mim.
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Algum dia você vai parar de me julgar? Não sabe o quanto eu estou tentando. |
Na nova cidade, eu não era mais a Amanda. Eu fui pra uma escola pequena, e todo mundo comentava da "garota quieta, nerd, ruim em esportes e que está sempre triste". Eu não conseguia fazer amizades, eu queria minha cidade, minhas amigas, minha escola de volta. Eu não pertencia àquele lugar. E as outras pessoas também viam que eu não me encaixava. Tudo isso estaria bem se simplesmente me deixassem sozinha. Mas não é isso que pessoas fazem. Começou com a Educação Física. Eu passava o jogo todo "em outra dimensão", não pegava a bola, não jogava direito, e comecei a ouvir xingamentos. Eu era a última a ser escolhida e o líder do time ainda perguntava pro professor se não podiam jogar com um a menos porque "ela só vai atrapalhar". Isso doía. Comecei a fingir que estava doente sempre que tinha essa aula. Até que fui ficando doente de verdade. Emagreci mais.
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Eu sinto como se eu incomodasse as pessoas só por estar viva |
Então, começaram a me zoar porque eu era muito magra. Ouvia os garotos cochichando, falando que eu era doente, anoréxica, feia, estranha. Esse grupo de garotos tinha um "líder", que era adorado por toda - pequena - sala. Eu fingia que não ouvia, não tinha coragem de rebater. Então, eu ia me fechando mais e mais. Entrei de cabeça no mundo dos animes e RPG, só sabia falar disso, pois era disso que eu falava com minhas amigas pelo MSN. Então, esse garoto começou a zoar os meus gostos. Disse que eu era estranha porque só gostava de coisa japonesa. Que não era "normal" como as outras meninas. Minha mãe foi chamada na escola, e como na época os professores viam o que estava acontecendo e eu fazia muitos desenhos suicidas, recomendaram um psicólogo. A psicóloga me mandou pra psiquiatra e passei a tomar remédio. Minha vida não tinha graça. Eu fazia tudo no automático e só me sentia feliz quando ouvia My Chemical Romance (eles salvaram minha vida, não é brincadeira) e me maquiava como a Lady Gaga.
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Seja você mesma e ame quem você é e se orgulhe porque você nasceu assim |
Eu percebi que era bullying quando vi que era só comigo. Não importa o que eu fazia, nada estava bom o suficiente para aquele grupo. Me zoavam por coisas sem o menor sentido, como meu gosto musical, o fato de eu gostar de Lady Gaga e My Chemical Romance incomodava muito eles, mas eles escutavam Kesha e Green Day. O problema era eu. Então, já que nada ia mudar, eu fiz o inverso. Pintei o cabelo mais vermelho ainda, ia pra escola de delineador forte, usava coisas pretas, eu ia ser o que eu quisesse, já que nada ia adiantar. Mas, enquanto eu tentava me fazer de resistente na escola, chegando em casa eu chorava. Muito. Então começaram a comentar minhas fotos do Orkut, me chamavam de feia, começaram a zoar minha religião. Cada hora era um novo motivo pra me zoar, eles inventavam algo de errado e fora do normal só pra implicar comigo. Foi quando eu comecei a rebater. Me fazia de durona, mandava calarem a boca, falava "Por que vocês se importam com a minha vida? No que isso altera a vida de vocês? Dane-se minhas fotos, meus gostos, pra que vocês se importam com isso?" Mas eles riam quando eu falava. Então eu explodi...
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seja forte, seja quem você é e lute por sua identidade, lute por quem você realmente é |
Implorei pra sair do colégio, mesmo sabendo que meus pais não tinham como pagar outro. Minha mãe então falou com a coordenadora. Fizeram uma reunião, e foi um dos piores momentos da minha vida. Obrigaram o garoto a pedir desculpas pra mim. E eu queria sumir, porque sabia que ele ia me odiar mais ainda e seria mais um motivo pra me torturar. Mas, ele parou. Nunca mais falou comigo. Eu fiz algumas amizades nessa época, que me ajudaram s superar isso e ficaram do meu lado, Ainda somos amigas.
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Ser você mesmo e fazer o que ama é mais importante que qualquer coisa. É mais importante que provar a si mesmo ou reconhecimento de outras pessoas. |
No final desse mesmo ano, eu me mudei novamente. E era uma ótima cidade, eu tive um ensino médio excelente, fui feliz e ainda sou. Não tomo mais remédios. Porém, eu sei que a depressão mora em mim. O trauma que eu vivi, ainda reflete hoje em dia. Não posso ouvir alguém falando "estranha", "magrela", "feia", que passo o dia inteiro pensando nisso. Causou uma insegurança que eu luto todo dia pra superar. Tenho dificuldade em me aproximar de pessoas e travo uma batalha diária contra isso. Algumas vezes eu venço, outras eu perco. E, apesar de saber que essa ansiedade, insegurança, depressão, nunca vai desaparecer por completo, eu estou vencendo essa guerra.
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A única pessoa que você deve tentar ser melhor, é a pessoa que você foi ontem. |
Tudo isso pra dizer que NÃO, POR FAVOR, NÃO ROMANTIZEM PROBLEMAS PSICOLÓGICOS! Não é legal, quem tem, trabalha duro todo dia pra mostrar a cara na sociedade como se estivesse tudo bem, quando não está!
Essa série, 13 reasons why, possui um objetivo muito legal, de conscientizar pessoas sobre suicídio. Mas eu tenho 13 coisas a dizer:
- Se você possui algum tipo de sentimento forte ligado a depressão ou suicídio, não assista a essa série sem se informar antes sobre as cenas fortes. Isso pode fazer com que você tenha recaídas irreversíveis. Assista com cautela e, se sentir-se mal, PARE.
- Assista coisas relacionadas, que te ajudem a entender o problema. Às vezes você sofre de algum distúrbio e nem faz ideia.
- Se você se sente mal, procure ajuda. Seja de família, amigos, psicólogo, ou mesmo na internet, busque pessoas que te deem apoio;
- Se você pratica ou já praticou bullying, pare, e tente se desculpar com a pessoa. Pode ser que tenham se passado anos. Mas, eu garanto que essa pessoa ainda lembra com tristeza disso.
- Se você está sofrendo bullying, converse com sua família e não tenha vergonha de procurar ajuda da escola. Isso pode fazer a diferença;
- Se você conhece alguém com depressão ou bullying, esteja ao lado dela. Mesmo que você não seja tão próximo, tenha certeza de que fará a diferença na vida dessa pessoa;
- NUNCA finja ter algum desses distúrbios. É desrespeitoso com quem sofre e banaliza o problema.
- Se você convive com alguém que sofre de qualquer distúrbio psicológico, tenha paciência com ela. Ela não te magoou porque quis.
- NUNCA CULPE A PESSOA. Você vai piorar o estado dela. Mostre apoio e tente entender. Não é culpa dela.
- Se você sofre de algum distúrbio, tenha paciência com você mesmo. Você não é obrigada a se transformar de um dia pro outro, isso é impossível. Um passo de cada vez.
- Comemore cada pequena conquista sua. Cada passo de progresso deve ser motivo de alegria, por menor que seja;
- Não se culpe caso tenha recaídas. Isso é normal. Porém, certifique-se de que alguém esteja acompanhando sua jornada pra sair dessa, pois essa pessoa a ajudará nesse momento.
- FAÇA AOS OUTROS O QUE GOSTARIA QUE FIZESSEM A VOCÊ. Essa é a frase que define o que é viver em harmonia com o mundo. AME-SE E AME.
Espero que minha história tenha feito vocês entenderem um pouco do que o bullying pode causar em uma pessoa. Que uma palavrinha sua pode fazer um grande estrago na vida de alguém. Estejam atentos ao que acontece ao seu redor e não seja o motivo de tristeza de alguém, mas sim de alegria!
Um beijo a todos, e desculpa o textão.
Amanda
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Eu sou Gerard Way... e eu sobrevivi... você irá também |
P.S: Caso alguém se interesse, procure sobre a história da Lady Gaga e do Gerard Way. Eles são meus exemplos de superação e podem ser os seus também.